A natureza não precisa de nós | Museu do Amanhã

A natureza não precisa de nós

Exposição Principal
Foto: Bernard Lessa / Museu do Amanhã

A raça humana não é poderosa em relação ao tempo da natureza, pois chegamos à Terra apenas "nos últimos segundos" de um relógio de 24 horas. Em palestra no auditório do Museu do Amanhã, nesta quinta-feira - em nova edição do evento "A ciência nos bastidores" - o presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), economista e ecologista Sérgio Besserman alertou que os humanos dependem da natureza, mas que a recíproca não é verdadeira. Por isso, a adoção de modelos de baixa emissão de carbono em grandes cidades torna-se primordial para a garantia da qualidade de vida das futuras gerações - e não para a existência da vida no planeta azul.

Ex-presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável do Rio, um dos mais respeitados estudiosos brasileiros sobre os impactos das mudanças climáticas ressaltou que não existe "receita de bolo" que todas as cidades devem seguir rumo ao desenvolvimento sustentável. Besserman destacou que o futuro socioeconômico do Rio depende da despoluição da Baía de Guanabara e cobrou um "exercício de humildade" à civilização.

- Nós, seres humanos, dependemos dessa natureza, da qual fazemos parte. Não somos poderosos no tempo da natureza. O século XX trouxe uma grande novidade: se durante 199,7 mil anos nosso impacto mal era notado, nos últimos 300 anos a gente passou a impactar demais. A vida está aqui há 3,6 bilhões de anos. A vida pluricelular, há 650 milhões. Se plotarmos num relógio apenas a vida pluricelular e nossa existência, vamos verificar que chegamos ao planeta nos últimos segundos das 24 horas. Antes, o planeta já passou por problemas infinitamente superiores (aos atuais). Somos a última película da era da vida recente. Usufruímos da natureza como se existisse almoço grátis. Não existe - alertou.

Besserman disse ainda que melhorar a vida nas cidades é o grande desafio dos tempos modernos.

- Quando eu comecei como militante ambiental havia uma ideia de que a vida na natureza era a ideal. Hoje mudou. É mais provável que consigamos ser mais eficientes no abastecimento de energia, de água, no saneamento vivendo cidades - destacou.

O ambientalista afirmou que conhecimento e criatividade serão preceitos fundamentais para as grandes cidades enfrentarem as mudanças climáticas e defendeu medidas para incentivar o uso do transporte público no Rio:

- Algumas cidades estão usando a sustentabilidade para criar uma marca. São os casos de Melbourne (Austrália) e Copenhagen (Dinamarca). Se o futuro é conhecimento e criatividade, a marca é decisiva. O Rio, por exemplo, precisa avançar em transporte público de qualidade. Quer ir para o Centro de carro? Paga. Londres arrecada 250 milhões de dólares por ano com pedágio de carro nas áreas centrais. Esse dinheiro é aplicado em melhorias do sistema de transporte. Não é decente que as cidades tenham destinado a maior parte de seus espaços públicos para os automóveis.

Governos jogaram pôquer na crise hídrica

O economista criticou ainda os governos federal, do Rio e São Paulo pela ausência de enfrentamento da crise hídrica.

- Tanto o governo federal como os de Rio e São Paulo jogaram pôquer. Ganharam. Podiam ter perdido. Os americanos têm um ditado que se encaixa bem aqui: "Hate the game, not the players". É preciso mudar a forma de se enfrentar os problemas, não os atores - disse.

Sobre o "Ciência nos bastidores"

A série de palestras "A Ciência nos bastidores" reúne os cientistas que participaram da elaboração da Exposição Principal do Museu do Amanhã em conversas informais com o público. Estudiosos das áreas de Ciências Exatas, Humanas e Biológicas, ligados a universidades do Brasil e do exterior, desvendam aos visitantes os detalhes e desafios envolvidos no planejamento da exposição. 

As inscrições para o evento são gratuitas e não dão acesso às exposições do Museu. Os interessados podem se inscrever até cinco horas antes de cada palestra por meio de um formulário on-line, e o número de vagas está sujeito a lotação do espaço. Os encontros vão até 25 de fevereiro, sempre às terças e quintas-feiras, às 17h30.

Veja a lista completa dos palestrantes.

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo. Exemplo bem-sucedido de parceria entre o poder público e a iniciativa privada, o Museu conta com o Banco Santander como patrocinador master, a Shell Brasil, ArcelorMittal, Grupo CCR e Instituto Cultural Vale como mantenedores e uma ampla rede de patrocinadores que inclui Engie, IBM e Volvo. Tendo a Globo como parceiro estratégico e Copatrocínio da B3, Droga Raia e White Martins, conta ainda com apoio de Bloomberg, EMS, Renner, TechnipFMC e Valgroup. Além da Accenture, DataPrev e Granado apoiando em projetos especiais, contamos com os parceiros de mídia SulAmérica Paradiso, Rádio Mix e Revista Piauí.