Comunicação científica no Japão | Museu do Amanhã

Comunicação científica no Japão: as ondas pequenas precisarão de tempo para se tornar uma grande onda

Observatório do Amanhã

Por Ryota Okunishi *

O que você acha da ciência e tecnologia japonesas? Avançadas? Inovadoras? Confiáveis? Ok, e o que você acha da comunicação científica japonesa? Na minha opinião, a última não acompanhou o avanço das primeiras.

Tadashi Kobayashi, sociólogo da ciência japonês, afirma que o início da comunicação científica no Japão ocorreu somente em 2005, quando o governo começou a dar suporte a vários programas de educação de comunicadores ou jornalistas científicos. Estes tipos de programas são divulgados ano a ano, e incluem estudos interdisciplinares e atividades de desenvolvimento educacional. 

Mas os esforços têm sido insuficientes, como a população do país inteiro descobriu há seis anos atrás, de uma forma trágica. Em 11 de março de 2011, um enorme terremoto atingiu a região nordeste do país, e no dia seguinte a atenção do país se voltou para o acidente que este causou em uma usina nuclear. O desastre mudou a comunicação científica e, desde então, o Japão tem enfrentado um dos momentos mais difíceis da comunicação científica moderna. Antes disso, a maioria das questões relacionadas à comunicação científica eram “importadas” de países europeus, e as discussões focadas principalmente em formação para o pensamento crítico. Em outras palavras, a comunicação científica era atividade acadêmica. 

O desastre tornou-a mais realista. Mesmo para aqueles que não haviam experimentado o terremoto nem os efeitos do acidente, os eventos importavam. As pessoas de repente se depararam com uma série de termos técnicos dos quais nunca haviam ouvido falar, e precisavam compreendê-los para sua segurança e paz de espírito (e de sua família). Um enorme problema de divulgação científica surgiu de repente, mas os japoneses não se prepararam para ele. Situações de completo caos se instauraram nas mídias sociais - e até nos jornais e canais de notícias -, que publicavam informações erradas, mal-entendidos e até mesmo mentiras propositais.

Penso que a razão pela qual a maioria dos japoneses não conseguiu lidar com o problema é que a tecnologia japonesa avançou demais. Os japoneses presumem que as tecnologias são confiáveis e que ‘simplesmente funcionam', e não se preocupam em saber qualquer coisa sobre ‘como’ elas funcionam. O que significa que não há espaço para a ciência. A maioria dos japoneses acredita, erroneamente, que ciência e tecnologia são a mesma coisa. Acreditam que a ciência é sempre correta, confiável, e que oferece uma única resposta para as questões. Essas ideias tornam a comunicação científica no Japão complicada. 

Como bem se sabe, a ciência não é concebida para determinar que algo é "100% verdadeiro", mas isso é o que as pessoas esperam dela. Após o acidente de Fukushima, apareceram pessoas que acreditavam que era possível remover completamente moléculas radioativas de alimentos ou do ambiente. Claro, isto é impossível, e existem moléculas que são radioativas sem causas artificiais, mas foi muito difícil fazer as pessoas entenderem isso. Um aspecto que torna as coisas mais difíceis é que os japoneses não são treinados para exercer o pensamento crítico e debater as coisas, mas não direi mais sobre essa questão. 

Uma coisa que devo mencionar é nossa situação com relação às redes sociais. A maioria das contas de redes sociais japonesas são anônimas. Isto significa que há uma multidão de ideias e informações sendo publicadas sem qualquer responsabilidade por elas. Eu acho que é uma das principais razões pelas quais as pessoas desconfiam das informações. Alguns dizem que o governo, os jornais e os programas de notícias mentem o tempo todo, e que a verdade só aparece na internet; já outros dizem o contrário. Como eu disse antes, os japoneses não são bons em usar a lógica científica. Misturamos as coisas; não somos muito eficientes em detectar a diferença entre o que é fato e notícia falsa. 

Embora esta situação seja séria, há movimentos que tentam mudar isso. Por exemplo, um médico iniciou um projeto para medir a quantidade de radiação de crianças que vivem na área vizinha a Fukushima, e revelou que a poluição era menos grave do que estimada (mas que precisamos continuar observando atentamente). Além disso, os “cafés científicos” estão se multiplicando em todo o país desde o acidente. A comunicação começou com os movimentos locais. Mas, como bem se sabe, o Japão é um país extremamente populoso, com uma sociedade cada vez mais velha. Pequenas ondas dessas comunicações locais precisarão de tempo para se tornar uma grande onda.

* Ryota Okunishi é repórter e diretor do centro de notícias da Mainichi Broadcasting System Inc.

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