Divulgação científica na Índia: breve histórico | Museu do Amanhã

Divulgação científica na Índia: breve histórico

Observatório do Amanhã

Anwesha Chakraborty*

A primeira tentativa de definir o patrimônio científico da Índia foi o estabelecimento do Museu Industrial e Tecnológico Birla, em Calcutá, 1959, na década seguinte à independência da Índia. Como explicou em uma entrevista Saroj Ghose, um dos primeiros diretores do Museu e ex-presidente do Icom (Conselho Internacional de Museus), o governo sentiu a necessidade de preservar artefatos de importância histórica em um Estado recém-formado e com enorme diversidade de pessoas que não tinham uma compreensão comum de sua história compartilhada.

Como Ghose explicou, para um país jovem, com políticas firmemente fundamentadas na necessidade de se tornar autossuficiente e educar suas enormes massas de trabalhadores rurais, a escolha do modelo de comunicação científica precisava ser uma em que a educação, e não a apreciação da ciência, era colocada em primeiro plano.

Além disso, a inauguração do Exploratorium nos Estados Unidos, em 1969, desafiou o status quo da museologia da época ao utilizar uma abordagem prática para a comunicação científica. A novidade do museu norte-americano, aliada ao crescente interesse dos indianos por atender às necessidades da população rural, agiram como catalisadores para que os profissionais que trabalhavam em museus de ciências na Índia defendessem o Exploratorium como o modelo preferido para comunicação científica no país. Isso acabou levando à criação do Conselho Nacional de Museus de Ciência em 1978.

Neste contexto, o Conselho tinha por objetivo atuar como autoridade do setor para popularizar a ciência e a tecnologia e promover o pensamento científico na enorme população da Índia, da qual parcela enorme contava com muito pouco (ou nenhum) acesso à educação. É evidente que, em um país de população tão grande e diversa como a Índia, com enorme variação de níveis de acesso à educação formal, museus e centros de ciência podem ser importantes agentes de mudanças sociais, ainda que muito lentamente. No entanto, como veremos, o Conselho proliferou suas atividades enormemente desde então, e hoje conta com centros nos níveis nacional, regional e distrital e organiza exposições científicas itinerantes.

Quando esse conselho foi criado havia três museus sob sua gestão. Em 2013-14, esse número havia crescido para 25 museus e centros. O conselho continua criando outros centros científicos de acordo com as demandas dos vários estados da União da Índia, cuja gestão é então entregue aos governos estaduais.

A ciência vai até as pessoas

Além dos museus, as atividades de promoção da ciência são muitas. Elas variam de iniciativas relativamente comuns (como feiras científicas, concursos de conhecimento e demonstrações) a ações mais especiais (como programas de prevenção de casamento infantil e grupos de teatro de rua que trabalham a erradicação de superstições, entre vários outros).

Para construir uma nação conscientizada da importância da ciência, o componente-chave é a população, que deve ser receptiva às ideias divulgadas pelos comunicadores científicos. Em entrevistas que fiz com a alta gestão do Conselho, quase todos os diretores mencionaram a necessidade de promoção da ciência e da tecnologia, desde princípios básicos das ciências naturais até o fomento de pesquisa de ponta em áreas como robótica e nanotecnologia, já que estes são os blocos de construção básicos para a população da Índia, hoje de mais de um bilhão de habitantes, a grande maioria dos quais com menos de 30 anos.

A promoção de atitudes científicas, ponto chave frequentemente aludido nas peças de divulgação científica na Índia, consagra o objetivo principal do Conselho Nacional de Museus de Ciências, que seja, criar um público conscientizado da importância da ciência.
Duas atividades específicas mostram isso. A primeira é o programa de exposições itinerantes que organiza ônibus com exposições variadas para enviar às áreas rurais, tendo como público-alvo algumas das parcelas mais desfavorecidas da população. Além de desafiar a ideia de um espaço de museu confinado a quatro paredes, essas exposições ajudam a disseminar fatos científicos em larga escala e, consequentemente, promover o pensamento racional entre os setores mais pobres da sociedade. 

As primeiras exposições itinerantes da Índia foram lançadas nos anos 60 e início dos anos 70, lideradas pelos dois maiores museus de ciência da época - o Museu Industrial e Tecnológico de Birla, em Calcutá, e o Museu Industrial e Tecnológico de Visveswaraya, em Bangalore (sul da Índia). Essas exposições itinerantes aventuravam-se por pequenas cidades e aldeias para criar consciência científica. Cada exposição, consistia de um ônibus, uma série de instalações simples com foco em vários fenômenos científicos diários e usos da ciência e tecnologia no cotidiano, uma pessoa para fazer reparos (técnico), um explicador e um motorista. Essas exposições itinerantes no Museobus, como cada ônibus era chamado, também se mostraram imensamente populares, e criaram um grupo-alvo de visitantes para além de alunos da escola.

Hoje, muitos ressaltam a ambição deste tipo de exposição, que conseguiu alcançar 2% de toda a população do país. Seu objetivo é garantir a consciência universal da ciência e da tecnologia, e assegurar que fatos e narrativas científicos e tecnológicos cheguem a todos os indianos.

Novas experiências

Além de exposições itinerantes, sessões informais de laboratório nos centros de inovação e em alguns museus do conselho voltadas para jovens alunos de escolas e cursos de graduação ganham mais e mais espaço na Índia. Oferecidas àqueles que desejam adquirir experiência prática em uma vasta gama de projetos tecnológicos, as sessões vão desde o desenvolvimento de bicicletas ecológicas e robôs seguidores de linha até a geração de eletricidade a partir de tecidos vegetais. 

Assim, o objetivo da divulgação científicas após a Independência da Índia sofreu transformações drásticas, influenciado por mudanças tanto dentro dos espaços museológicos quanto nas abordagens de comunicação científica. Se no início (ou seja, nos anos 50) o interesse era preservar o patrimônio histórico do império, hoje o museu de ciência indiano é mais um centro de ciências dedicado a fornecer educação científica acessível e criar cidadãos com consciência científica que poderão abordar as necessidades sociais de forma inovadora. Esta nova perspectiva abre múltiplas avenidas para novas pesquisas sobre as estratégias de comunicação necessárias para aproveitar o potencial inovador de uma grande população jovem.

* Anwesha Chakraborty é pesquisadora, com doutorado em Ciência e Cognição pela Universidade de Bolonha, na Itália, e iniciou o pós-doutorado em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Chalmers University of Technology, na Suécia.

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo. Exemplo bem-sucedido de parceria entre o poder público e a iniciativa privada, o Museu conta com o Banco Santander como patrocinador master, a Shell Brasil, ArcelorMittal, Grupo CCR e Instituto Cultural Vale como mantenedores e uma ampla rede de patrocinadores que inclui Engie, IBM e Volvo. Tendo a Globo como parceiro estratégico e Copatrocínio da B3, Droga Raia e White Martins, conta ainda com apoio de Bloomberg, EMS, Renner, TechnipFMC e Valgroup. Além da Accenture, DataPrev e Granado apoiando em projetos especiais, contamos com os parceiros de mídia SulAmérica Paradiso, Rádio Mix e Revista Piauí.