De Gagarin aos Instagramers | Museu do Amanhã

De Gagarin aos astronautas do Instagram

Observatório do Amanhã
A Estação Espacial Internacional, maior construção humana no espaço / Foto: NASA

Por Davi Bonela*

Na mesma semana em que a Nasa anunciou a descoberta de 1.284 planetas fora do Sistema Solar, a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) completou 100 mil voltas ao redor da Terra. Foram 4,2 bilhões de quilômetros percorridos, o mesmo que dez viagens de ida e volta do nosso planeta a Marte ou quase a distância até Netuno.

Orbitando entre 330 e 435 quilômetros da Terra, a ISS é a maior construção humana no espaço e pode ser vista por nós a olho nu. Serve de laboratório de pesquisa espacial no qual os astronautas fazem experimentos biológicos, físicos, astronômicos e meteorológicos. Nela também são testados equipamentos para futuras missões à Lua, a Marte e a asteroides.

A Estação Espacial dá uma volta ao redor da Terra a cada 90 minutos, transmitindo a visão que tem do planeta em tempo real. Com isso, oferece permanentemente uma imagem da Terra que só é possível ver do espaço.

Primeiras impressões da Terra

Se hoje a estação compartilha sua viagem on-line, esta nova perspectiva da Terra e de nós mesmos foi revelada há algumas décadas, no início da exploração espacial, pelos olhos de Yuri Gagarin:

– A Terra tem um halo azul muito bonito, muito característico, que se pode divisar com clareza quando se observa o horizonte – exclamava o cosmonauta russo descrevendo o que via através das duas janelas da espaçonave Vostok 1, em 1961.

Já em 1968, a Apollo 8 deu uma volta ao redor da Lua tripulada por três norte-americanos que viram a Terra a 386 mil quilômetros de distância. O astronauta Bill Anders registrou esse momento, fotografando a superfície da Lua e um hemisfério iluminado pelo Sol.

Foto: NASA
Na foto do astronauta Bill Anders, a primeira vez que a Terra pôde "se ver" / NASA

– Pela primeira vez, a humanidade pôde ver sua casa, a Terra, como um único astro, solitário e radioso no espaço sideral. Esta imagem, este novo ponto de vista, reformulou definitivamente a compreensão que os humanos de todas as origens, tradições e geografias têm de si mesmos e do Universo – explica o cosmólogo Luiz Alberto Oliveira, curador do Museu do Amanhã.

A importância dessa fotografia também tem a ver com o que ela não mostrou. Naqueles anos, o mundo mudava rapidamente. Não só pelo aumento populacional, de cidades, da produção industrial e do consumo, mas pelos conflitos gerados na expansão da Guerra Fria aos países da África, Ásia, América Latina e ainda pelos movimentos organizados em torno de líderes como Martin Luther King, Betty Friedan, Nelson Mandela, Mahatma Gandhi ou Ernesto Che Guevara. Vista deste modo, essa fotografia permitiu outra perspectiva da sociedade sobre si mesma:

– De terrestres, nos tornamos terráqueos. Apenas lentamente este novo entendimento começou a se infiltrar nos espíritos, mas essa transformação é definitiva, irreversível – afirma o cosmólogo.

Odisseia espacial compartilhada em tempo real

Hoje, a Estação Espacial continua a transformação mencionada por Luiz Alberto. A começar pelos seis astronautas a bordo atualmente. O número de voltas que eles dão ao redor da Terra faz com que vejam o nascer e o pôr do sol 16 vezes por dia. Algo difícil de imaginar, mas que deve gerar alguma mudança no modo de entender o planeta. Contudo, eles guardam um pouco da nossa rotina.

O astronauta britânico Tim Peake, que está na estação desde dezembro passado, mantém a conta @astro_timpeake no Instagram, onde compartilha fotografias do Rio Tapajós, do vulcão Etna, do deserto do Saara, das cordilheiras do Himalaia, de Londres e Dubai iluminadas à noite, além, é claro, de muitas fotos do sol nascendo e se pondo.

Assim como ele, os astronautas Tim Kopra e Jeff Williams mantém suas contas (@astro_tim e @astro_jeffw, respectivamente) publicando fotografias do nosso planeta tiradas da estação, que lembram frágeis miniaturas e quebra-cabeças.

– São gente como a gente. A diferença é que a retina dos olhos deles é como um espelho para o planeta ver a si mesmo em toda sua glória azulada, diversa, dinâmica – define o curador do Museu do Amanhã.

* Davi Bonela é pesquisador do Observatório do Amanhã.

O Museu do Amanhã é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG. O projeto é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo. Exemplo bem-sucedido de parceria entre o poder público e a iniciativa privada, o Museu conta com o Banco Santander como patrocinador master, a Shell Brasil, ArcelorMittal, Grupo CCR e Instituto Cultural Vale como mantenedores e uma ampla rede de patrocinadores que inclui Engie, IBM e Volvo. Tendo a Globo como parceiro estratégico e Copatrocínio da B3, Droga Raia e White Martins, conta ainda com apoio de Bloomberg, EMS, Renner, TechnipFMC e Valgroup. Além da Accenture, DataPrev e Granado apoiando em projetos especiais, contamos com os parceiros de mídia SulAmérica Paradiso, Rádio Mix e Revista Piauí.